As três creches gerenciadas pelo Instituto de Ação Comunitária do Ceará (IAC-CE) têm se destacado como exemplos pioneiros no combate ao racismo desde a primeira infância. Sob o selo de Escola Antirracista, duas dessas instituições desenvolvem ações que não apenas promovem a inclusão, mas também impactam positivamente crianças, famílias e a comunidade, reforçando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Por meio de práticas pedagógicas inovadoras, o IAC-CE demonstra que é possível transformar a educação em um poderoso instrumento de luta contra a discriminação racial.
Dados do estudo “Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: Um retrato pós-BNCC” mostram que 89% das turmas de creches e pré-escolas no Brasil não incluem a educação étnico-racial em seus currículos. Esse vazio pedagógico deixa crianças negras vulneráveis a exclusões e preconceitos que podem se manifestar até mesmo em espaços que deveriam ser de acolhimento e formação. Essa lacuna, infelizmente, reforça um ciclo de invisibilidade e discriminação que impacta negativamente a autoestima e a formação dessas crianças. Nesse contexto, as ações do IAC-CE tornam-se não apenas relevantes, mas fundamentais para quebrar esse ciclo de violência e exclusão.
E o reconhecimento dessas iniciativas não tardou a chegar. Em 2023, o IAC-CE conquistou seu primeiro selo de Escola Antirracista, um feito renovado em 2024 com ações ainda mais amadurecidas e abrangentes. O projeto Voz da Igualdade, promovido pela Creche Semeando o Saber, tem sido um dos pilares desse reconhecimento. Durante o ano, crianças são engajadas em atividades que incluem narrativas orais e escritas sobre diversidade e inclusão, músicas que exaltam a igualdade e práticas culinárias que resgatam tradições afro-brasileiras. Esse trabalho reflete o compromisso contínuo das creches com a promoção de uma educação que transforme não apenas as crianças, mas também toda a comunidade ao seu redor.
A Semeando o Saber vem desenvolvendo um trabalho voltado para promover a igualdade por meio de ações de combate ao racismo. Inicialmente, com o projeto “Por uma Infância Sem Racismo”, a Secretaria Municipal de Educação (SME) reconheceu a relevância da iniciativa, convidando a creche a participar da premiação do Selo Escola Antirracista. “Em 2023, conquistamos o nosso primeiro selo e, em 2024, fomos agraciados com o segundo, evidenciando ações mais maduras e bem elaboradas”, conta Verônica Veras, coordenadora da creche.
Essas iniciativas envolvem as 136 crianças atendidas nas turmas de Infantil I, II e III. O impacto é perceptível não apenas no comportamento das crianças, que demonstram respeito, empatia e igualdade em suas atitudes cotidianas, mas também no reconhecimento das famílias e da comunidade. As ações realizadas ganham visibilidade por meio das atividades desenvolvidas e das paredes da creche, que exibem cotidianamente registros do trabalho realizado.
Neste ano, a Semeando o Saber também deu destaque ao projeto “Voz da Igualdade”, que ocorre de novembro a novembro e aborda narrativas que promovem a diversidade e a inclusão por meio da linguagem oral e escrita. As atividades incluem a representatividade em músicas como “Ninguém é Igual a Ninguém”, contação de histórias afro-brasileiras e a preparação de uma antiga receita com ingredientes tradicionais da culinária brasileira. Esses momentos reforçam a mensagem de que a luta pela igualdade racial não é apenas um evento pontual, mas deve ser vivenciada diariamente em comportamentos e atitudes.
O reconhecimento desse trabalho se estendeu além da comunidade escolar. A Creche Semeando o Saber foi escolhida pelo Distrito de Educação 3 para representar todas as creches parceiras, destacando-se pelo desempenho em gestão pedagógica e práticas inovadoras. A entrega do segundo Selo Escola Antirracista é reflexo de uma dedicação contínua ao fortalecimento de uma educação inclusiva e transformadora.
“Além disso, realizamos um momento formativo com as professoras da creche sobre diversidade e inclusão, pautado em documentos referenciais como os DCRFOR. Esses encontros têm sido fundamentais para alinhar práticas pedagógicas e fortalecer o compromisso com uma educação que valorize a representatividade e promova a equidade”, finaliza Verônica.
A Creche Raio de Luz, sob a coordenação de Vivian Gonçalves, recebeu por dois anos consecutivos o selo Antirracista como parte de uma iniciativa para promover a inclusão e combater o racismo no ambiente escolar. Diversas ações têm sido desenvolvidas para despertar o interesse das crianças das turmas Infantil I, Infantil II e Infantil III. “As professoras trabalharam com brincadeiras e jogos africanos, além de introduzir atividades como culinária, dança e música, sempre com o objetivo de valorizar as diferenças e reconhecer as contribuições históricas dos povos negros para a construção da sociedade”, relata Vivian.
Segundo a coordenadora, a iniciativa tem como objetivo preparar as futuras gerações para enfrentar os desafios do racismo e construir uma sociedade mais justa e igualitária. Por meio dessas ações, as crianças aprendem, de forma lúdica e significativa, a importância de respeitar as diferenças e valorizar a diversidade. Além disso, essas práticas têm impacto positivo não só no ambiente escolar, mas também fora dele, ao conscientizar a comunidade sobre os males do preconceito e a necessidade de promover a paz.
O trabalho realizado na Creche Raio de Luz foi tão significativo que as crianças participaram de apresentações na mostra cultural e na Academia do Professor, a convite da Secretaria Municipal de Educação. Essas experiências reforçam o compromisso da equipe em transformar a educação em uma ferramenta poderosa contra o racismo e a exclusão, celebrando a cultura afro-brasileira como parte essencial da identidade nacional.
A Creche Mundo Feliz, por sua vez, em alusão à semana em que se marcou o Dia da Consciência Negra, promoveu uma roda de histórias com a participação especial de Ana Safira, de 7 anos, prima do aluno Anthony Gabriel. Ana Safira apresentou a história “Bucala, a princesa do Quilombo”, que narra a trajetória de uma linda princesa quilombola com cabelos crespos em formato de coroa de rainha. Bucala possui poderes mágicos que protegem o quilombo, fortalecendo a união e a cultura de seu povo. “Este foi um momento enriquecedor de interação entre crianças de diferentes idades, além de uma oportunidade para refletirmos sobre a importância do respeito às diferenças raciais e culturais,” conta Viviane Alperes, coordenadora da creche Mundo Feliz.
Na atividade “O colorido da Cultura Africana”, as crianças foram convidadas a explorar elementos da cultura africana por meio de uma vivência prática e reflexiva. Inicialmente, organizamos um espaço com fotografias de pessoas africanas, tecidos, linhas e miçangas de diferentes tamanhos, cores e formatos. Cada criança teve a liberdade de observar e explorar esses materiais, desenvolvendo suas próprias percepções. Essa apreciação visual serviu como inspiração para que cada uma criasse seu próprio colar, remetendo à estética e à riqueza da cultura africana.
Essas atividades são fundamentais para introduzir a cultura afro-brasileira no dia a dia das crianças. Elas promovem a diversidade e criam um ambiente propício para conversas naturais sobre conceitos como raça, equidade, diversidade, racismo e intolerância. Viviane destaca que a conscientização, desde cedo, é um passo importante para construir uma sociedade mais inclusiva e respeitosa.
E para encerrar o mês, nos dias 25 e 26 de novembro, ainda em alusão ao Dia da Consciência Negra, o IAC-CE promoveu rodas de conversa com as alunas do ballet e do jazz, por meio do projeto Dançar para Transformar, com incentivo da SecultFor, através do projeto Mecenas. A assistente social Lorena Vitor e a técnica Luana Miranda, junto à equipe técnica do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), conduziram as rodas de conversa utilizando o curta “Dudu e o lápis cor de pele”, que aborda a temática do racismo. Após a exibição do vídeo, as crianças foram incentivadas a refletir e dialogar sobre o tema. Em seguida, elas participaram de uma atividade prática, criando autorretratos com o uso de lápis de cor com diversas tonalidades de pele, instigando-as a reconhecer e valorizar suas características. Esse momento lúdico e reflexivo proporcionou trocas enriquecedoras e contribuiu para o crescimento das alunas em relação à temática abordada.
Neste primeiro feriado nacional do Dia da Consciência Negra, as ações do IAC-CE servem como um lembrete do poder transformador da educação e da informação no combate ao racismo. E o instituto nos mostra que é possível construir uma sociedade sem racismo com respeito, mais informação e, acima de tudo, mais consciência.
Para mais informações sobre os projetos do IAC-CE, acompanhe o Instagram (@iac.ce) ou entre em contato pelo telefone: (85) 3235-6683 / (85) 98780-8625 ou pelo WhatsApp: (85) 99981-2923.